Jequié

Dia do/a Estudante: Mais uma data de Luta e Resistência

11 de Agosto, dia do Estudante. Data que marca e reforça toda a ousadia e esperança que se existe no sistema educacional, em especial nos/as estudantes.

ícone relógio11/08/2021 às 21:56:15- atualizado em  
Dia do/a Estudante: Mais uma data de Luta e Resistência

O educador Paulo Freire apresenta que “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.” 

Farsa essa que vivemos atualmente, com um Governo irresponsável, que a cada dia sucateia mais a educação, tornando mais que necessário essa data o  dia de ocupar as ruas e as redes para enfrentar, o Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, o Genocida que financia a manutenção da morte de milhares de brasileiros e sucateia a educação pública dia após dia.

Com o alto índice de desemprego, fome, crise sanitária e uma crise no sistema educacional sem precedentes, aumentando e reforçando os distanciamentos socioeconômicos, a partir da implantação do ensino remoto, sem levar em consideração as diferenças regionais, culturais e econômicas do país, reverberando na exclusão digital e  contribuindo para o aumento da evasão escola. 

Entre os quase 56 milhões de alunos matriculados na educação básica e superior no Brasil, 35% (19,5 milhões) tiveram as aulas suspensas devido à pandemia de covid-19, enquanto que 58% (32,4 milhões) passaram a ter aulas remotas. Na rede pública, 26% dos alunos que estão tendo aulas online não possuem acesso à internet. Esses são alguns dos dados de pesquisa do Instituto DataSenado, que aponta que quase 20 milhões de estudantes deixaram de ter contato com o processo de ensino aprendizagem. Outras pesquisas, realizadas pelo BID e outras instituições, apontam que durante o ano de 2020 o desânimo relacionado ao sistema educacional variou de 40% a 68%, isso acarretará problemas que levaremos décadas para reverter, pois a pandemia afetou a dinâmica, a renda e principalmente retirou a vida de mais de 560 mil brasileiros, muitos pais e mães desses jovens, restando a angústia de não saber se um dia os seus sonhos serão realizados, ou quem eles podem perder amanhã.

Um ano e meio em que a pandemia no Brasil se iniciou, um ano e meio que as  escolas estão fechadas, um ano e meio sem merenda, um ano e meio de medo. 

O ensino remoto deu continuidade à educação durante a pandemia, mas só para uma parcela que tinha condições financeiras e estrutura para o acesso. Esta modalidade de ensino não é suficiente para suprir as necessidades do povo brasileiro, trazendo uma crescente e assustadora exclusão educacional, acentuada pela exclusão digital para a vida de milhares de estudantes, muitos estudantes não têm aparelhos que permitam acesso a internet móvel ou Wi-Fi, assim como um espaço apropriado para estudo. O ensino remoto foi determinante para quem poderia ter ou não o acesso à educação, principalmente quando nos referimos ao ensino secundarista, que conta com mais de 40 milhões de estudantes, em sua maioria negros e negras, oriundos de comunidades periféricas e socialmente vulneráveis.

A crescente exclusão digital no Brasil, nos alerta para o aumento significativo das desigualdades sociais, jovens desempregados, sobrevivendo em um país onde comer carne tem se tornado uma realidade distante, em que o preço da cesta básica, do botijão de gás e a conta de energia só aumentam. Esse cenário contribui para termos as escolas esvaziadas, a evasão escolar volta a ser uma realidade que já havíamos superado no país, por isso a importância de nos organizarmos e lutar em defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, em que os estudantes e professores tenham direitos.

É preciso construir possibilidades para que a juventude possa identificar na educação o processo de transformação social, cultural e econômica, pois parafraseando Paulo Freire, é a educação que faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação. A educação deve ser levada a sério porque ela transforma vidas, muda a realidade e faz nascer um novo mundo. Educação não transforma o mundo, educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo!

É por essa ânsia e vontade de transformação que o movimento estudantil luta e se organiza, é pela possibilidade de mudar a vida de milhões de brasileiros jovens, que não tinham perspectiva de transformação social e econômica, a ampliação da rede de Institutos Federais e das Instituições de Ensino Superior Públicas acontece para mudar a vida de muitos jovens pelo país.

A construção de uma política de assistência e permanência estudantil dentro dos Institutos Federais possibilitou de milhares de jovens baixa renda pudessem ocupar esse espaço, ampliando seus conhecimentos e desenvolvendo pesquisa e extensão, ainda no ensino médio, colocando o Brasil como uma referência em expansão do ensino técnico e mudando a realidade de mais de 170 cidades no país.

Houve muita criação, expansão, investimento e melhorias dentro de todo o sistema educacional, mas infelizmente em poucos anos tudo está sendo desmontado, jogando para subempregos uma parcela da juventude que foi assistida por todo esse investimento e desenvolvimento educacional.

Estamos diante de um contexto onde o desemprego em massa, que atinge os jovens e os mais velhos, mas atinge homens e mulheres de forma diferente, a grande maioria das pessoas desempregadas no país são mulheres jovens. Hoje o desemprego está na seara da responsabilização individual, por cada um ser o sujeito do seu empenho na competição por uma vaga formal, ingresso no mundo do trabalho ou na informalidade. As únicas opções de renda para a juventude não podem ser o tráfico de drogas, a informalidade e o trabalho precarizado.

 A pandemia ainda não acabou, o governo não vacinou toda a população, está longe disso, e as aulas presenciais retornam em muitos Estados, no momento em que a pandemia está aparentemente controlada, mas com uma nova variante super violenta, variante delta, colocando o risco a vida dos estudantes em especial.

Nossa vida e o nosso sustento não é barganha política. Não podemos aceitar o retorno às aulas presenciais neste momento, retorno às aulas presenciais só quando tivermos mais de 75% da população brasileira vacinada, os estudantes, em sua maioria, que não são dos grupos de risco ainda não estão vacinados, não podemos permitir que estudantes corram o risco de ser infectados e por consequência infectar  suas famílias.

Todos já deveriam ter retomado suas vidas, se não fosse a recusa do Governo Federal em adquirir doses de vacinas contra a covid, ainda no ano de 2020, a  juventude precisa de políticas públicas que garantam a formação profissional, assistência e permanência estudantil, investimentos específicos em ações protagonizadas pelas/os estudantes, geração de renda, trabalho formal com  seguridade social, jornadas de trabalho que possibilitem estudar, para que possam construir o seu projeto de vida e poder sonhar com um futuro melhor.

 Nós, organizações e movimentos estamos lutando pelos melhores rumos da educação do nosso país, de como queremos nossas escolas, de poder voltar a ter esperança, de que um dia nossos sonhos serão realizados, de que vamos ingressar no ensino superior, que muitos de nós serão os primeiros da família a entrarem em uma universidade. Chegou a hora de nos organizarmos para lutar pelo o que acreditamos, ir para as ruas e ocupar as redes, mobilizar os nossos e apresentar o projeto político que sonhamos para o Brasil, pois neste momento mais do que resistir é hora de revidar, não podemos mais aceitar todas as atrocidades do Governo Bolsonaro. Com os punhos cerrados lutaremos e marcharemos pelo Fora Bolsonaro, por vida, pão, vacina e educação. 

Herbert Coelho, Diretor de Políticas Educacionais da União Brasileira dos Estudantes Secundarista - UBES.